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Por
Rômulo Ruggeri
No draft de 2017, após rumores de que times queriam efetuar trocas para conseguirem um QB antes do Chicago Bears, o General Manager do time (Ryan Pace) investiu pesado para sair da posição 3 do draft e assumir o lugar do San Francisco 49ers na posição 2. Foram enviadas “apenas” as escolhas 3, 67, 111 e ainda uma escolha de terceira rodada de 2018 por Mitchell Trubisky.
Depois de três temporadas, um playoff perdido por um field goal e uma campanha ruim em 2019, com direito a jogos terríveis, parece que a conta está chegando ao time do Chicago Bears. Se não bastasse isso, no mesmo ano do draft de Trubisky, os Chiefs selecionaram Patrick Mahomes na posição 10 e os Texans trouxeram Deshaun Watson na posição 12. Ambos atletas com muito reconhecimento na liga e com muitos resultados positivos.
Bom, apresentado o contexto histórico dessa matéria, vamos ao motivo de escrever sobre ela.
Por que errar sai caro?
Investimento
Esse é o primeiro ponto da análise e eu costumo afirmar que quando há convicção, não há como julgar o movimento do General Manager. O que não significa que não podemos criticar o problema do scout que avaliou erroneamente essa aquisição. De qualquer forma, se Mitchell Trubisky tivesse se provado, todo o investimento teria valido a pena e eu não estaria falando disso agora.
Mas nesse caso especificamente, além de não colher os frutos de um grande jogador dentro de campo, houve uma perda enorme de capital no draft. O movimento feito pelos Bears para adquirir Trubisky fez com que eles perdessem inúmeras escolhas que poderiam tornar o time ainda mais forte. O draft é o capital mais barato que um time pode ter para adquirir jogadores de qualidade e abrir mão disso pode ser um tiro enorme no próprio pé.
Extensão automática de 5º ano
Se você não sabe como funciona essa extensão, caro leitor, eu te explico. Em acordo coletivo firmado pela NFL com a associação de jogadores, ficou determinado que todo o jogador escolhido na primeira rodada do draft teria em seu contrato uma cláusula de extensão automática caso o time queira exercê-la. Entende-se que o jogador de primeira rodada é privilegiado perante aos demais em termos de salário e exposição e, assim sendo, a extensão automática seria uma contrapartida do jogador perante a franquia que lhe escolheu.
Além disso, o rookie com a opção de quinto ano em seu contrato, tem o valor do salário totalmente garantido e pré definido conforme média salarial da liga. Essa definição é bem simples: as top 10 escolhas de primeira rodada do draft têm seus salários definidos considerando a média dos 10 maiores salários para a posição. Já as escolhas de 11 a 32 tem seus salários definidos de acordo com a média do 3º ao 25º maiores salários da posição. Resumindo, é uma tag bem mais barata.
Agora veja o caso de Mitchell Trubisky. Escolhido na posição número 2 do draft, seria racional imaginarmos que ele receberia um extensão automática do seu quinto ano. Isso porque o seu salário, se comparado aos quarterbacks mais bem pagos da liga, seria baixo e permitiria aos Bears mais uma temporada investindo em outras posições sem ter que dar uma salário recorde para seu franchise quarterback.
Comparações de Mitchell Trubisky com Patrick Mahomes
Apenas para você entender o drama desse cálculo e da situação do Bears, Patrick Mahomes e Deshaun Watson receberam de seus times a extensão automática. Mahomes inclusive recebeu um contrato de mais 10 anos que pode pagá-lo até meio bilhão de dólares. Ou seja, Mahomes receberá, na próxima temporada (quarto ano de seu contrato de calouro), algo entre 2 e 3 milhões de dólares. No quinto ano de seu contrato referente a extensão automática, seu salário passará a ser aproximadamente 26 milhões de dólares. Depois disso, irá entrar em vigor o seu contrato que valerá na média 45 milhões de dólares, mais bônus. Percebe como é barato estender o quinto ano de um QB de alto calibre? Além disso, veja quanto pode ser benéfico para a franquia poder economizar recursos e investi-los em outras posições.
Trubisky não teve a sua cláusula de extensão do quinto ano ativado. Isso demonstra que o Bears não tem certeza se Mitchell pode ou não ser a cara da franquia a longo prazo. E falando em longo prazo, entramos em outro problema.
Tempo é dinheiro
Ter uma campanha memorável no seu segundo ano de calouro e ganhar o SuperBowl no terceiro ano como fez Patrick Mahomes é raro na NFL. Muito raro eu diria. Mas os times esperam sim que seu QB de franquia tenha desempenhos, ainda em fase de calouro, que demonstrem o seu valor e que justifiquem pagar caro por ele pelos próximos 10 anos.
Quando um GM faz um investimento em um QB na primeira rodada de um draft, é nisso que ele pensa. Achar o grande jogador que estará à frente da sua equipe pelos próximos 15 anos. Quarterback é a principal posição desse jogo. Quando você tem uma estrela jogando pelo seu time, o General Manager pode focar totalmente na construção de sua equipe (que costuma ser feita em torno de seu QB).
Errar na escolha só gera transtornos, visto que você leva pelo menos três anos para perceber que seu quarterback do futuro na verdade pode não ser seu titular até o final do contrato de calouro. Isso porque a franquia se agarra numa possível evolução que nunca vem e, consequentemente, a construção que o GM faz começa a ir para o ralo.
No caso dos Bears, que já vinham de sequentes anos ruins, eles se colocam agora em posição desconfortável sobre o futuro dessa posição tendo basicamente três opções:
A) Preparar-se para um novo draft e mais um novo ciclo de construção de um novo QB;
B) Trabalhar a próxima free agency com algum Dak Prescott que possa surgir de surpresa;
C) Ainda insistir em Trubisky na esperança de que ele se torne aquilo que se imaginava em seu draft.
Errar seu QB pode ser uma bola de neve de erros para seu sistema ofensivo
Caso seu QB tenha um canhão no braço, o GM pode pensar em construir seu ataque num sistema Air Coryell, ou seja, com passes mais profundos. Isso implica em uma linha ofensiva mais forte capaz de dar mas tempo ao seu QB para efetuar lançamentos mais longos. Você precisará ainda de WRs rápidos o suficiente para chegar as rotas mais longas em menos tempo. E provavelmente contará com um running back no estilo power back para aproveitar a abertura do campo que o sistema proporcionará.
Se o QB não é de jogo mais profundo, mas tem uma precisão absurda em jogadas de poucas jardas, a construção já é outra. Em um sistema West Coast, sua linha já não precisa ser das melhores já que o QB vai soltar rápido a bola. Além disso, seus WRs precisarão ter mais capacidade de executar rotas curtas e se livrar mais rapidamente da marcação. Por fim, muito provavelmente seu RB terá mais qualidades de recepção de passes.
Errar na escolha do seu QB afunda completamente aquilo que o GM desenha ao redor dele. E isso custa caro, pois demandará mais alguns anos para corrigir toda a rota.
O futuro de Mitchell Trubisky
Entrando em seu quarto ano de contrato de calouro, vendo a sua opção de quinto ano ser declinada pelos Bears e recebendo um novo concorrente para a posição que já ganhou Super Bowl, Mitchell Trubisky estará mais pressionado do que nunca para essa temporada.
Eu sinceramente não acho que Nick Foles será a resposta para a posição dos Bears. Considerando que Trubisky já chegou aos playoffs com esse time (ficando fora de um Divisional Round por um field goal), penso que a aquisição de Foles seja muito mais para tirar Mitchell da zona de conforto. Assim essa temporada será tudo ou nada na carreira desse jogador.
Minha aposta? Trubisky joga a temporada como titular e terá um ano melhor que a do ano passado. Se vai receber um novo contrato? Duvido.
E você leitor, o que acha desse atleta e do futuro dessa posição no Chicago Bears? Compartilhe a sua opinião conosco.
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