Tanking, a parte triste da NFL

Foto: Michael Perez/AP Photo

No último Sunday Night da temporada, vimos Doug Peterson fazendo um trabalho óbvio de “tanking” para melhorar a posição de draft do Philadelphia Eagles. A vitória os colocaria na posição 9 do draft. No entanto, sem pretensão nenhuma na temporada, perder colocaria os Eagles na posição 6. 

Quem me acompanha sabe que eu sou torcedor dos Giants e, por isso, não vou cair no erro de colocar a desclassificação do meu time na conta do rival da Philadelphia. Como disse Joe Judge: “os Giants tiveram 16 oportunidades para se colocarem na posição de vencedores da divisão. A culpa pela não classificação é dos Giants e não dos Eagles“.

Mas apesar de achar que os Giants são os únicos responsáveis por seu destino na liga, isso não impede de achar extremamente desagradável ver o que foi feito com a partida deste último domingo, 3. Certamente, assim como eu, muitos outros que viram aquele jogo, torcedores dos Giants ou não, tiveram o mesmo sentimento. 


Tanking disfarçado

É certo dizer que a liga e os torcedores aceitam facilmente aquilo que eu considero um “tanking disfarçado”. Ou seja, um movimento de enfraquecimento da franquia feito pelos gestores para que este time, em reconstrução, possa recomeçar através da escolha do melhor prospecto do próximo draft. Aliás, esse jogador quase sempre é o principal do esporte, o quarterback

Sempre fui da opinião que o tanking não entra em campo, visto que todos os jogadores atuam em cada snap pensando em suas estatísticas e o que elas devem trazer de novos contratos para eles. Por isso, o tanking é disfarçado e conduzido pelas lideranças.

Basta ver que a equipe dos Eagles sequer colocou Carson Wentz como elegível para a partida contra o Washington. Certamente pensando em colocar a terceira opção na posição, enfraquecendo o time e inviabilizando qualquer pretensão de vitória com o pretexto de que estavam testando o jogador. 

Isso não é uma exclusividade dos Eagles. Aconteceu com os Dolphins ano passado e esse ano foi a mesma coisa com os Jets. Esse texto não é para lamentar aquilo que aconteceu entre Eagles e Washington, mas sim para ressaltar como o tanking prejudica um esporte que tem apenas 16 jogos por temporada.

Mas se o tanking é um problema, qual seria a solução? Eu penso em duas possibilidades que poderiam reduzir os impactos dessa situação. 


Sorteio

A NHL já usa esse recurso há muito tempo. A NBA também adotou esse modelo recentemente. Aliás, na NBA, todas as franquias que não foram aos playoffs encaram um sorteio. Qualquer uma delas pode ser a pick 1. Entretanto, as chances são menores para aqueles que tiveram melhores campanhas na temporada anterior. De qualquer forma, foi assim que o New Orleans Pelicans, com apenas 6% de chance de ser sorteado como a pick 1, capturou Zion Williamson no draft de 2019. As demais equipes que vão aos playoffs ficam com suas posições de origem conforme classificação. 

Há muitas frentes que defendem o sorteio como uma forma justa para a NFL. Inclusive, lembro de ter visto uma proposta que parecia ser interessante. O sorteio poderia ser feito entre as 12 últimas equipes e cada franquia teria uma bola conforme seu número de derrotas. Apenas como curiosidade, esse ano a soma total de derrotas das 12 primeiras equipes do próximo draft é de 128. 

As 15 derrotas dos Jaguars representariam apenas 12% de chances de sair com a primeira escolha. Os Eagles hoje teriam 8%. Isso significa que o tanking feito pelos Eagles nesse final de semana daria apenas mais uma bola para o sorteio, ou seja, menos de 1% de chances a mais para a equipe da Philadelphia. É de se pensar.


Playoffs para o Draft

E se a pick 1 do próximo draft fosse disputada em um pequeno mata-mata? Parece loucura pensar nessa possibilidade, mas eu só vejo pontos positivos nisso. Imagine os 8 piores times jogando quartas, semi e final. O “Draft Bowl“. Esses jogos poderiam acontecer no meio de semana, nas quintas e sextas por exemplo. 

Assim não concorreriam com o evento principal e esse mini torneio terminaria na semana que antecede as finais de conferência. Além disso, a NFL tem buscado fontes de receitas para aumentar ainda mais a sua hegemonia entre as ligas norte americanas. 

Leia também – Os negócios da NFL. Explicamos como funciona.

Poderia fazer bem para a liga, para os jogadores que teriam mais alguns jogos em rede nacional para atuar, para a mídia com mais conteúdo para se debater e, principalmente, para a torcida que teria motivos para acompanhar e torcer por seu time. 

Pense por um instante na competitividade desses jogos. Certamente não seria como os as partidas da temporada regular dessas equipes. No entanto, esse calendário extra poderia trazer algum problema com a NFLPA, mas poderia também ser uma alternativa ao invés dos 17 jogos por equipe que a liga tanto almeja. 

Além disso, o mês de janeiro é conhecido por ser o período em que as franquias reestruturam suas estratégias e seus quadros de funcionários. Muito provavelmente essas 8 equipes estariam em desvantagem na disputa por profissionais do mercado com relação às demais franquias eliminadas dos playoffs e que não participariam do Draft Bowl


Considerações finais

A NFL é vista por muitos como um dos esportes mais justos e igualitários entre seus membros. Não à toa, dificilmente vemos na liga uma equipe que tenha amplo domínio sobre as demais e raramente vemos a mesma franquia jogando SuperBowl todo ano. Certamente o modelo de draft de hoje é um fator que ajuda nesse equilíbrio. 

Porém, atitudes de equipes como a dos Eagles e Jets nessa temporada, colocam um ponto de interrogação sobre o modelo. E isso se deve ao fato de ser uma liga com apenas 16 jogos por temporada, e quem paga o preço é o torcedor que tem que se contentar com o enfraquecimento deliberado da franquia. 

Além da mídia, é claro. Estamos falando de uma liga que preza pela isonomia, em que a receita de TV é igualmente dividida entre as 32 franquias e que busca fortalecer essa parceria para conquistar ainda mais receitas. Consequentemente, para agradar todos os franqueados, não é raro vermos Jets no prime time oferecendo a beleza competitiva que demonstrou ao longo de quase toda a temporada. Convenhamos que isso não é interessante para a TV. 

Enfim, seja com loteria, com Draft Bowl ou com qualquer outra ideia, o mais importante é a NFL não sentar em cima de seu status atual e achar que o modelo é perfeito, que ele basta e que não precisa jamais ser repensado.

E aí leitor, qual é a sua opinião sobre o tanking e sobre o modelo de draft de hoje na NFL?

Rômulo Ruggeri: 35 anos, torcedor do New York Football Giants. Grande adepto de sua equipe, Rômulo já esteve no MetLife Stadium. Acompanha a NFL desde que as transmissões se iniciaram no Brasil. Sempre por dentro das particularidades da liga, também é bastante participativo nas análises dos times e jogadores.
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